Tomé fez três anos.
Três anos é tempo suficiente para se dar três voltas completas ao mundo, conhecer culturas incríveis, trocar experiências valiosas, se perder e se encontrar em lugares inóspitos. Há três anos eu dou voltas em torno do meu próprio eixo tentando reconhecer todas as minhas bordas e limites, viajo pra dentro dos buracos mais escuros da maternidade e saio deles cada vez mais forte e cheia de perguntas que me fazem querer voltar. Há três anos vivo, sem ir muito longe geograficamente, as experiências mais intensas de troca, de entrega, de loucura, de choro, de felicidade imensurável, de inconstância, de dúvidas, de amor que não consigo adjetivar, não mesmo.
Três anos é tempo suficiente pra se especializar em algum tema e ser um profissional bem sucedido. Nesses três anos Tomé nos ensinou coisas que nenhum livro ainda escreveu, nos trouxe entendimentos, verdades e aceitações que nenhuma escola poderia proporcionar. Durante esse tempo, fomos matriculados no melhor de todos os cursos, onde não há notas mas sim muitas provas, não há professor melhor que o bom senso, as reprovações nos ajudam a subir degraus evolutivos, o conteúdo é infindável, os alunos sempre serão os mais velhos, por mais que acreditemos estar ensinando o tempo todo. Talvez nunca chegaremos ao “nível” de bons profissionais, quem sabe isso aconteça perto de virarmos algodão doce e ganharmos o céu. Mas, querendo, temos 365 chances de sermos bem sucedidos na montanha russa que é educar e ser educado por um filho. E ser bem sucedido não quer dizer fazer como todo mundo faz ou como a cultura na qual você foi educado te enquadrou. A gente tem é que ter esperteza e silêncio pra poder observá-los todo santo dia e sentir como estão crescendo. São eles os guardiões das respostas que tanto buscamos em revistas, artigos, filmes e uma parafernália de palavras que nos ensurdecem pro que eles nos contam.
Três anos é tempo suficiente para se tornar gente que fala, anda, pensa, interage e mais um monte de coisas. E nesse tempo, enquanto Tomé aprendia, a gente reaprendia. Por isso eu sempre digo que cada filho é uma chance que a vida nos dá de começarmos tudo outra vez, só que agora de forma mais bonita e inteira. Nós aprendemos a andar com cuidado pelas ruas, a prestar mais atenção aos riscos que podem nos fragilizar, a vigiar os passos que guiam a família toda. Repensamos a forma de nos alimentar para instigar, de forma bem natural, o aprendizado do alimento saudável e benéfico pro corpo. Reconhecemos o poder e a energia das palavras, nos vigiamos para medí-las e fazê-las nascer da boca de forma consciente, ponderada e cheia de verdade. Além disso, mais um mundo de coisas que fomos aprendendo com e por ele: dormir pouco pra vigiar seu sono, sonhar mais alto pra ele seguir avante, controlar nossas emoções pra ele ter espaço de manifestar as dele, compartilhar experiências pra multiplicar amor. E mais e mais e mais e mais…
Então resolvemos celebrar todo esse tempo de renascimento, esses três anos em que estamos crescendo juntos como pais, filho, família, amigos, parceiros. Sentimos que temos muitos motivos pra isso, ah se temos! Acontece que nunca fomos muito fãs da forma tradicional de comemorar aniversários, dessa fórmula pronta que o capitalismo impôs fazendo de refém nossa criatividade e trocando o verdadeiro sentido da coisa por presentes caros. Sem ninguém pedir minha opinião e sem julgar os que acreditam nessa forma de celebrar (cada macaco no seu galho, beibe!), penso que tudo isso é muito cruel e uma pena!
Nossa celebração aconteceu no pomar, espaço que papai limpou com muito capricho. Mas, antes disso, ajudei Tomé a fazer os convites do piquenique e fomos entregar pessoalmente nas casas das poucas crianças que moram por perto. Cortamos caixas de ovos, enchemos de terra, plantamos uma mudinha de suculenta, ele desenhou num papel, cortamos em pequenos quadradinhos, eu escrevi data e hora, amarramos com um retalho de pano e pronto! Custo zero e diversão garantida, foi massa ver ele curtindo esse processo todo!
Usamos as bandeirinhas que vovó Tetê havia trazido pra gente há um tempo atrás pra enfeitar o pé de amora, local do nosso encontro. Colocamos a mesa da sala lá fora, fizemos um bolo, biscoitinhos de tapioca e suco de manga do quintal. A ideia foi ninguém trazer presente, mas sim contribuir com o que tinha sobrando na horta, no pomar, na terra. E veio maça, banana, laranja, mandioca cozida, uva e lá vai coisa boa! Juntos, construímos uma mesa farta e uma reunião simples e gostosa, bem como Tomé é e merecia. Ele, que sempre achou que aniversário era um lugar e não uma data (porque já tinha ido a duas festas aqui e imaginava que a palavra “versário” era a casa dessas crianças!), falava o tempo todo que estava tudo lindo e que estava feliz. Bingo! Era isso o mais importante.
Tomé, meu filho, que a vida seja tão larga quanto seu sorriso de todo dia. Que tenhamos clareza para poder enxergar os melhores caminhos e seguirmos por eles de mãos dadas. Que venham mais muitos anos cheios de curvas, linhas retas, montanhas e estrada afora. Porque sentimos e respeitamos seu espírito livre, a grandeza da sua alma, a força da sua personalidade, a bondade que já brota forte no seu coração. Gratidão por tudo que conseguimos ser e fazer até aqui, por toda a luz que você nos direciona, por todo o amor diário e sem tamanho que você derrama em nosso peito. É com ele e por ele que buscamos ser melhor, ser completos, ser família, ser essa delícia que a gente saber ser juntos. Renascer há três anos atrás foi o melhor presente de todos, que esse sentimento seja multiplicado a cada 365 dias, por uma vida inteira.
Solte o verbo!