Sinto que esta é uma boa hora para falar sobre ele. A princípio, porque é o primeiro texto de 2015 e nada mais justo que ele venha enfeitado daquilo que desejamos ao mundo inteiro nesses 365 dias do novo ano. Depois, e principalmente, porque hoje consigo verbalizar com toda a minha verdade o que esse sentimento representa para mim e pra nossa família. É importante dizer que esse devaneio particular e atrevido sobre um sentimento tão universal é escrito à quatro mãos, eu e Hugo pensamos e sentimos juntos cada palavra derramada aqui.
Há tempos enxergamos que o amor é a chave de tudo, a tampa da panela, o X da questão, o pingo do i. Foi ele o fio condutor para nossas maiores conquistas, nosso encontro de almas, nossos filhos, nossa felicidade. Mas, mesmo sem saber e muito satisfeitos com o que já tínhamos, não conhecíamos o amor puro e genuíno. Vivíamos então, até o tempo mágico dessa descoberta, um amor vestido com roupas sociais, amarras, tabus, gêneros, pré-conceitos, sexo, medidas, imposições, obrigações e zilhões de “acessórios” que o impediam de ser puro, pelado, ser só o amor em sua essência e verdade absolutas.
Foi então que Hugo, com toda a efervescência da revolução que pulsa em seu peito desde sempre, me propôs a reflexão sobre o amor livre. Me senti tão perdida nessa hora que minha cabeça rodava em círculos e não conseguia imaginar outro fim pra mim senão cair de tontura no chão. Começar a pensar o amor despido de amarras sociais dentro de um relacionamento romântico, um casamento tradicionalmente monogâmico é como começar pela pior (leia-se melhor) parte, árremaria! Antes do sim ou não para essa aventura, meu peito gritou pela necessidade de entender melhor o que o amor livre queria me dizer e onde poderia nos levar. Me joguei então nos diálogos intensos com o Hugo, li muita coisa na internet, ouvi a experiência de amigos, respirei fundo e fiz silêncio.
E foi esse silêncio que trouxe o entendimento que eu mais precisava e nenhuma palavra lida ou ouvida havia trazido ainda. A clareza de que esse sentimento genuíno não deveria existir somente como opositor ao amor romântico, mas sim como algo infinitamente maior, algo que gostaríamos de ensinar aos nossos filhos e espalhar pelos sete mares. Além disso, a certeza de que todos nós viemos a esse mundo com o coração cheio desse amor puro, ele sempre foi meu, era só um momento de sacudir a poeira da vida e redescobrir esse tesouro. Então meu peito se abriu como um portal e começamos nossa caminhada de mãos dadas rumo à liberdade que nos foi negada pela crueldade dos tabus sociais.
Não, não foi e ainda não é 100% fácil se despir de algo que você acreditou a vida inteira, mesmo que por falta de opção. E, como já disse antes, começar a prática desse processo dentro do casamento é ainda mais complicado do que dentro de qualquer outro tipo relação. Mas é também a mais intensa, a mais profunda, a mais bonita, a mais real e talvez a mais necessária.
Foi foda entender toda a imensidão do desapego, descobrir que ele anda de mãos dadas com a confiança no amor que se constrói diariamente, sacar que a felicidade do outro não mora única e exclusivamente em você e na relação que vocês têm, e nem a sua! Foi uma paulada na orelha deixar o outro ir, se permitir ir também sem se deixar vencer pelo medo de ninguém voltar. Foi dolorosamente libertador entender que, se você realmente ama alguém, você respeita a liberdade desse espírito e ama tudo o que o faz feliz, mesmo que não seja ou não venha de você. E tudo fica mais claro ainda quando você tira o seu umbigo do centro do mundo e entende que o egoísmo é carro sem freio em ladeira abaixo. Libertar o outro só é genuíno quando você se permite essa liberdade também, a coisa só funciona quando é boa para ambas as partes. Confesso que, sem o suporte do Hugo e a certeza do seu amor sem medida, as coisas teriam outro tom.
O ciúmes, o apego, a fidelidade prometida, o medo, a insegurança, o contrato, tudo isso esconde a pureza do amor e o condena a uma vida leviana. Não é justo que sejamos esse sentimento opacoh quando ele deveria ser o brilho que conduz toda nossa existência.
Passado esse primeiro momento de nos despir da sujeira acumulada por anos nas paredes do nosso coração, é hora de deslizar na suavidade desse amor livre, genuíno e verdadeiro. Um processo lindo de ser a verdade que buscamos nos outros, a verdade que queremos mostrar aos nossos filhos como a opção que nunca tivemos. Amar sem arestas é como multiplicar por mil a grandeza desse sentimento universal. É bonito por demais ver a coisa se alastrando, ver as energias comuns se atraindo, seu ciclo de amigos crescendo de gente aberta às aventuras do mundo.
Hoje somos infinitamente mais felizes que antes, somos mais completos um no outro e nos pertencemos com a força do vento que corre solto. A liberdade é a maior prova de amor que qualquer relação pode ter, a consciência do amor genuíno é indescritivelmente libertadora. É fato que ainda nos esbarramos em algumas esquinas, percebemos tropeços, nos permitimos conversas e insatisfações. Nenhum processo é tão simples que se resolva em pequenos passos do ponteiro. Ainda estamos caminhando, ainda estamos nos construindo como espíritos inteiramente conectados à força maior do universo, o amor.
Sentimos que nos conhecemos mais como homem, mulher e parceiros que somos. Estamos tão próximos que nos vemos dentro, sempre de olho na distância leve dos respiros individuais. Respeitamos mais nossos desejos que pulam vivos do peito direto pra boca, sem nenhum receio de mágoas ou proibições. Vivemos e nos entregamos por inteiro, dormimos e acordamos um nos braços do outro sempre certos de que assim será pelo tempo infinito que durar, e que será sempre puro feito água da nascente. Oferecemos ao nosso amor tickets de viagem para destinos desconhecidos e, toda vez que ele volta, chega maior e mais bonito, volta mais forte e certeiro.
Sem a mínima intenção de catequizar o amor livre, deixamos aqui nossa experiência pessoal na intenção de levarmos esse questionamento pra frente. Sim, o amor precisa ser uma pergunta, acima de tudo. Como, quando, onde, por quem, por que, de que forma, mais, menos, leve, pesado, verdadeiro ou não. Permitir o questionamento é caminhar rumo à transformação, principalmente quando é possível fazê-lo sem o peso do julgamento precipitado.
Então, que possamos amar mais, que sejamos a mais pura essência desse amor, que sejamos mais a verdade que esperamos do mundo, que consigamos nos transformar em espíritos mais evoluídos e amáveis, que sejamos valentes para nos despir das terríveis amarras impostas, que possamos respeitar mais a liberdade de ser.
Ninguém é amor pela metade e ninguém é livre sozinho!
Sejamos!
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